domingo, 16 de agosto de 2009

O que é Tarot?

Imagem: Morrhigan/Stock.xchng

Eu tinha decidido esperar um pouco antes de abordar esse assunto por aqui. Isso porque o blog é novo, muitos visitantes (ou a maioria) não me conhece pessoalmente e, talvez em igual número, muitos não tenham familiaridade com o tema. Então, antes de chamar gente de responsa para falar sobre o assunto (já tenho uma pretensa lista de convidados... hehe), tinha preferido abordar temas mais, digamos, "físicos" nesse início de trabalho. O que é palpável, normalmente, é mais fácil de entender, provar e experimentar. E, além de grandemente importante, menos sujeito a controvérsias quando se começa a conversar com alguém. :)

Mas o convite/desafio da amiga Cláudia, no excelente (e parada obrigatória) Via Tarot, me fez inverter a ordem, para também participar da reflexão que ela lançou a partir da dúvida de uma visitante (exatamente a pergunta que dá nome a este post). Achei que a resposta seria grande demais para um comentário por lá, então decidi usar este espaço aqui para também expor algumas idéias a respeito. Afinal, o conceito de bem-estar engloba tudo - corporal, mental e espiritual, e há quem diga (e prove) que esses dois últimos são os principais responsáveis pelo que acontece com o primeiro.

Estudo Tarot há aproximadamente quatro anos, como autodidata. Antes disso, tive contato com essa prática por meio de amigas e amigos queridos. E, até alguns anos antes desse período, tinha inclusive um pouco de pé atrás com as chamadas ciências oraculares - pelo menos as que envolviam de forma tão ostensiva o "acaso", o simples tirar desta ou daquela carta. Parecia-me algo pouco... científico, digamos assim. Diferente, por exemplo, da astrologia, que, para quem a estuda, já oferece um sistema mais lógico e organizado de leitura e interpretação de informações.

No entanto, ao longo do tempo, fui percebendo que existem diversos meios de se trabalhar o lado intuitivo e sensitivo que todos trazemos conosco. Esse é, a meu ver, o grande mérito do Tarot e dos jogos de cartas em geral: trabalhar nosso lado intuitivo, não racional, aquele que não depende de números ou esquemas. Ao soltar as amarras lógicas, abre-se espaço para que o que está oculto na mente apareça.

A origem do Tarot, como de qualquer prática muito antiga, é controversa. Acredita-se que tenha surgido, com a formação atual, na época da Renascença (entre 1400 e 1600), porém há quem situe seu aparecimento durante a Idade Média, com raízes em jogos de cartas já praticados séculos antes por egípcios, chineses, indus e hebraicos. A partir do século XVI, o Tarot de Marselha, base para a maioria dos outros, se estabeleceria com a formatação que conhecemos hoje - 78 cartas, sendo 22 arcanos maiores e 56 arcanos menores (estes correspondendes às cartas de um baralho comum).

Os arcanos (cuja vocáculo significa "mistério"), em especial os maiores, correspondem a arquétipos da nossa própria psiquê, e também àquilo que está acima dela, que pode ser explicado de forma histórica e psicológica como parte do inconsciente coletivo (um dos maiores estudiosos dos conceitos de arquétipo e inconsciente coletivo, inclusive relacionados ao Tarot, foi o "pai" da psicologia analícia, Jung). Dessa forma, dialogando com o resultado de um jogo, consegue-se obter um rico panorama a respeito de sua própria mente e capacidade da fazer associações e reflexões.

Portanto, o Tarot - ao menos para mim - está muito menos ligado a um sistema fechado de "adivinhação", e muito mais à interpretação que se faz de cada informação recebida. Em outras palavras, o que importa na busca de respostas é menos a mensagem em si e mais o receptor - no caso, nosso próprio inconsciente. O Tarot, nesse caso, não seria uma seita, religião, jogo de adivinhação, vaticínio ou substituto da bola de cristal. Seria, entre outras coisas, um canal de abertura para o nosso mundo mental e emocional, por meio de símbolos que nos fazem refletir ou "descobrir" algo que trazemos já no pensamento ou no sentimento, mas sobre o que não havíamos nos detido até então.

Na prática, eu diria que o resultado é fazer pensar e estimular o diálogo interno ou externo. Existe uma máxima que diz que "o Tarô é um bom criado, mas é um mau patrão"; e acredito firmemente nisso. Todo método de autoconhecimento deve trabalhar a nosso favor, deve nos abrir portas para que possamos fortalecer nossa autonomia e livre-arbítrio, e não o contrário. Por isso, desconfio um pouco de interpretações fatalistas ou muito fechadas sobre qualquer assunto, enquanto dou votos de confiança a quem realiza trabalhos de interpretação que favoreçam o diálogo (já vivi conversas incríveis com semi-desconhecidos a partir de um jogo de cartas!), instiguem o pensamento e abram novos caminhos mentais àqueles que já conhecíamos.

Gosto de extender esse pensamento a todo tipo de prática mental ou espiritual, seja ela religiosa, esotérica, psicanalítica, filosófica ou oracular. A história das crenças é, antes de tudo, a história do próprio homem. Olhando para dentro, fica bem mais fácil entender o que se passa fora também. E, no caso do Tarot, talvez esteja provada ainda a via inversa dessa mesma estrada. Nesse caso, o tal "acaso" (embora a cada dia que passe eu acredite menos nessa palavra... rs) dá até uma ajudinha para que a coisa fique ainda mais interessante... afinal, nem só de contas matemáticas vivemos, e muito menos vive o que vai por dentro da gente. :)

Há muitos bons lugares na net para conhecer mais sobre Tarot, mas indico especialmente dois: o site Clube do Tarot, pela clareza e qualidade, e o próprio Via Tarot, escola viva de aprendizado diário (que já virou roda de amigos também!).

3 comentários:

Cacau Gonçalves disse...

Muito bem, "gafanhota"!!! :-)))))
Ju, muito bacana a sua postagem. Creio que esta visão "desmistificadora" do Tarot seja muito legal porque mostra que, sem perder a magia e o encantamente, dá para olhar para o tarot de uma forma mais "amiga" e próxima. Muito bom!

beijo, queridona!

Flávio Siqueira disse...

Gostei bastante da sua aula, pois pra mim, que iniciei o estudo do tarô há somente 2 semanas, foi muito esclarecedor, até porque eu ainda fico meio "travado" ao falar de tarô por questões religiosas, mas quando comprei o livro O Sepulcro, de Kate Mosse, a partir de então me interessei bastante e resolvi iniciar o estudo. Consegui umas apostilas bem legais na internet e estou já cogitando a possobilidade de adquirir meu deck de cartas de Raider-Waite. Bom , mas como sempre surge uma dúvida, e queria que você me explicasse, pois, para mim, é um ponto crucial: Como o simples fato mecânico de retirar uma carta de um baralho pode me fazer descobrir algo que trago no pensamento ou no sentimento? Ou seja: estou sentado diante de vc.e aí misturo as cartas e então retiro uma aleatoriamente. Como posso acreditar ou confiar que essa carta em si quer me dizer algo?
Aguardo o seu esclarecimento.

Juliana disse...

Oi Daniele,
obrigada pela visita e pelo comentário! :)
Então, sobre essa questão do acaso das cartas, eu vejo da seguinte maneira: na verdade, uma carta ou um jogo de cartas não está lá para te dar respostas fechadas sobre determinado assunto, mas para fazer você refletir a respeito de algum aspecto de si ou da sua própria vida. Claro, o nível de interpretação, mais aberta ou mais fechada, depende muito da pessoa que lê o tarot, de suas crenças, de seu envolvimento com o jogo, com a questão e tudo mais. Mas, partindo do princípio de que este é um jogo intuitivo, podemos encarar as "respostas" como um instrumento de auto-conhecimento - as cartas estão ali para nos fazer refletir sobre coisas que já trazemos conosco, ou que já nos rodeiam, mas às quais precisamos prestar atenção. Não vejo porque uma carta tirada de um baralho teria um poder menor de provocar isso em você do que uma experiência vivida na rua, uma frase ouvida de um amigo, uma música, um texto ou qualquer coisa que, aparentemente, também podem chegar até você "por acaso". A diferença é que os arcanos, em si, reproduzem arquétipos que todos nós vivenciamos em algum momento da vida, ou trazemos dentro de nós em maior ou menor grau, e aí fica mais fácil de visualizar essas respostas ou propostas de reflexão.
Não sei se respondi sua pergunta, mas espero que ajude... eu tenho um texto ótimo sobre esse assunto, que também pode ajudar a pensar. Se quiser, deixe seu e-mail num comentário (que não publicarei) e te envio!
Beijos,
Juliana