quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Eu não tô fazendo nada, você também...

Imagem: Craig Hauger/Stock.xchng

Recentemente, tive um pequeno problema no computador de casa. Uma queda de energia à toa, que nem chegou a apagar as luzes totalmente, fez com que meu PC "desmaiasse" para não mais retornar, não importando os esforços desta workaholic desesperada. Seguiram-se duas semanas sem máquina em casa e, por consequência, sem a chance de fazer trabalhos extras à noite e sem acesso à internet depois do expediente.
Os primeiros dias foram um tanto caóticos: correria pra fazer tudo no trabalho, inclusive resolver problemas pessoais que tivessem a ver com o computador, ou então idas a cybercafés no horário da janta para resolver pendências ficadas para trás. Amigos solidários chegaram a oferecer notebooks para suprir a ausência do ente querido, digo, do computador pessoal, enquanto o mesmo estivesse na "enfermaria". E uma quase adicta tendo que se adaptar à nova realidade, com os dramas de ficar incomunicável durante um período indeterminado de tempo.

Porém, passados os ajustes iniciais, uma alteração em minha rotina começou a se estabelecer. A primeira coisa foi a definição de prioridades - não dava para ficar pagando cybers todos os dias pra responder a emails não-urgentes. Depois, a incrível percepção de que havia mais tempo para fazer coisas extra-tela. Comecei a fazer compras de supermercado menos corridas, pensando em refeições que agora eu teria mais tempo para preparar. Retomei a leitura de alguns livros. Dei-me o prazer, perdido há tempos, de me esticar no sofá, ligar a televisão e fazer o scandisc mental por uma hora que fosse, menos preocupada com a lista de coisas a fazer do que com o simples prazer de estar ali, curtindo a minha própria casa - um lugar que, na correria do dia a dia, acaba virando mais um QG para comer-dormir-trabalhar do que um lar de fato.

Apesar dos pequenos exageros, não me considero uma viciada em computador ou internet, tampouco uma louca por trabalho. Mas, até pela facilidade que nos oferecem as ferramentas tecnológicas de hoje, achamos que temos a capacidade de assumir um número cada vez maior de pequenas-tarefas-resolvidas-em-cinco-minutos que, no final das contas, acabam nos ocupando todos os dias até tarde da noite, sem que tenhamos tempo de fazer simplesmente mais nada.

E foi pensando nesse "nada", que às vezes é tudo que nos falta para reequilibrar o ânimo, que me lembrei de um movimento internacional dedicado exatamente a essa prática: de fazer nada. Apesar de exótica à primeira vista (as coisas simples e fundamentais, hoje em dia, chegam a parecer exóticas...), penso que lembra muito a prática de alguns tipos de meditação, em que você simplesmente deixa sua mente fluir, sem se focar em nenhum pensamento, antes de iniciar o processo de "esvaziamento" para outros níveis mais avançados de concentração. No fundo, todos tratam de princípio semelhante: passar um tempo consigo mesmo em busca do equilíbrio para, mais tarde, continuar a desempenhar as tarefas e responder às pressões do cotidiano.

Não é apenas se sentando ou se deitando imóvel que se consegue esse estado meditativo. Atividades cotidianas que exijam certo grau de abstração, como tomar banho, caminhar e até lavar louça, podem ser palco para atingir esse estado e cultivá-lo. Para consegui-lo, vale a pena prestar atenção na própria respiração e focar o pensamento, por exemplo, nas sensações que o ambiente provoca - sons, a textura do solo, a água sobre a pele, o vento ou ausência dele, a temperatura do lugar. São exercícios simples que, transformados em rotina, podem ajudar muito a relaxar a mente e aumentar a capacidade de concentração para o trabalho e até mesmo para o descanso e o sono (trazendo ganhos comprovados para a saúde).

Para complementar, 5 ou 10 minutos por dia podem ser preciosos para aquela atividade que se adora fazer, mas não encontra oportunidade há meses: ouvir música, ler um livro, ligar para um amigo, caminhar por algum lugar de que goste, brincar mais com o filho, sobrinho, levar o cachorro pra passear.
A gente costuma encontrar tempo para trabalhos extras e até para grandes e elaboradas diversões, mas não para as "mini-férias" que podem nos revigorar no dia-a-dia. Não vale a pena esperar o computador (ou o cérebro) pifar para abrir uma brecha para si mesmo uma ou duas vezes por semana. :)

Um comentário:

cacau disse...

Oi, amiga! Adorei o texto e tava precisando ler algo assim!
Uma das minhas atividades preferidas de relaxamento é cozinhar, fazer bolos, tortas, pães, enfim, me enfiar de cabeca num projeto culinário :)!

bjs