segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de março

Queen of Cups/Stephanie Piu-Mun Law

A data é manjada e passível de várias discussões a respeito de sua pertinência, origem, distorções e interpretações. Ainda assim, achei que seria válido comentar o assunto por aqui... para além das manifestações cor-de-rosa ainda recorrentes ao dia, ou ao arquétipo de "mulher-polvo" que acabamos por incorporar atualmente, existe ainda uma porção de mistério muito particular na condição feminina - mistério esse que uma vida não é capaz de elucidar. Sintetizando as reflexões a respeito dessa vasta Missão, seguem algumas espirituosas palavras. E um feliz dia para todos e todas. :)

Aviso da lua que menstrua
Elisa Lucinda

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com essa gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera.
Cuidado com essa gente que gera.
Essa gente que metamorfoseia. Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar.
Mas é outro lugar: aí é que está.
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita...
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro
Transforma fato em elemento. A tudo refoga, ferve e frita.
Inda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou, é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga, é que estou falando na vera.
Conheço cada uma, além de ser uma delas...
Você que saiu da fresta dela.
Delicada força, quando voltar a ela:
Não vá sem ser convidado!
Ou sem os devidos cortejos... às vezes pela ponte de um beijo,
E já se alcança a cidade secreta. Atlântida perdida.
Outras vezes, várias medidas e mais se afasta dela.
Cuidado moço, por você ter uma cobra entre as pernas,
Cai na contradição de ser displicente
diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental.
Não menospreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano que se extraem filosofias.
Costurando, cozinhando. E você chega com a mão no bolso,
Julgando a arte do almoço... eca!
Você, que nem sabe onde está sua cueca!
Ah! Meu cão desejado,
Tão preocupado em rosnar, ladrar, latir...
Então esquece de morder devagar.
Esquece de saber curtir, dividir.
E, aí, se quer agredir, chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui.
O que é que você pode falar da vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
Vaca é sua mãe. De leite.
Vaca e Galinha... ora, não ofende.
Enaltece, elogia.
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite.
Pensando que está xingando
Que está falando palavrão imundo...
Tá não homem.
Tá citando o início do mundo!

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